Com incertezas, moradores de Bento Rodrigues falam sobre recomeço.
Grávida de 8 meses perdeu tudo e agora quer casa para estar com bebê.
Dona de bar tenta retomar vida fazendo famosas coxinhas.
Oito dias após a tragédia que deixou distritos de Mariana debaixo de lama, moradores desabrigados convivem com a incerteza de como ficará a situação deles daqui para frente. Para centenas, planos e resultados de uma vida inteira de trabalho ficaram para trás, soterrados pelos rejeitos da mineração. Em meio ao desalento, três moradores de Bento Rodrigues falam sobre o recomeço.
Gravida de oito meses, a servente Elisângela Aparecida Messias, de 37 anos, está à espera de Heitor e também de uma solução. Emocionada, ela diz que o que mais quer agora é uma casa, mas faz questão de continuar morando perto da mãe. Ela é uma das mais de 600 pessoas que estão abrigadas em hotéis de Mariana.
Elisângela estava no trabalho quando o rompimento das barragens ocorreu, e, por isso, não teve que fugir às pressas do "mar de lama". Entretanto, a casa em que morava com o marido foi totalmente destruída, e do quartinho todo já montado do bebê nem uma foto de recordação ela tem. A servente diz que o enxoval estava pronto, mas nada restou. "Perdi tudo, tudo, tudo. Perdi guarda roupas, berço, carrinho, perdi tudo", desabafa. Agora, com doações, ela conseguiu refazer parte do enxoval para quando Heitor chegar. "O que eu mais queria era uma casa para estar com ele", afirmou.
Também moradora de Bento Rodrigues, Sandra Quintão, de 47 anos, está no mesmo hotel de Elisângela. Por ora, ela prefere permanecer no local e não pensa em ir para uma das casas que a Samarco, cujos donos são a Vale e a anglo-australiana BHP, se comprometeu a alugar para moradores. No distrito, Sandra tinha um bar, que viu ir embora como uma embarcação arrastada pela correnteza da lama.
Para tentar recomeçar a vida, ela foi para cozinha do hotel fazer os quitutes que costumava servir aos moradores e a quem mais passasse por Bento Rodrigues. Ela diz que suas coxinhas são famosas na região e, já no primeiro dia em que voltou para beira do fogão, fez logo sete centos do salgadinho para o almoço dos moradores. "Hoje não estou nem chorando", disse.
Sandra também preparou tabuleiros de pé de moleque. Segundo ela, todo o material foi doado. A moradora já pensa em começar a vender os salgadinhos, mas, para isso, precisaria de um freezer.
Além de roupas, móveis e eletrodomésticos perdidos, o que tem feito falta a moradores é dinheiro. Marconi Geraldo de Souza, de 19 anos, que fugiu da enxurrada só com a roupa do corpo conta que precisou de pegar R$ 40 com uma tia para comprar uma máquina de fazer barba.
Apesar da casa destruída e das dificuldades que têm enfrentando desde que as barragens se romperam, ele diz que conseguiu salvar o que considera mais importante: a vida - a dele, a da mãe e a da avó.
O primeiro impulso de Marconi, ao perceber o que estava acontecendo, foi ir, sozinho, em busca de um lugar seguro. Mas, quando já estava prestes a dar partida na moto, voltou para ajudar a mãe e a avó. Os três conseguiram subir em um caminhão junto a inúmeras outras pessoas e escapar.
Ele diz que a família quer ir para uma das casas alugadas pela Samarco. Sobretudo, deseja ver todo o distrito reconstruído, mas não sobre os escombros e a lama. "Queremos outro Bento, mas em outro lugar", afirmou, acrescentando que teme que a região onde morava continue a ser rota dos rejeitos, caso outra barragem se rompa.
Até que uma solução definitiva seja apresentada, a Samarco se comprometeu a alugar casas, que serão mobiliadas, para os desabrigados. De acordo com o coordenador de desenvolvimento socioinstitucional da mineradora, Estanislau Klein, a empresa está percorrendo os 17 locais onde há moradores dos distritos hospedados para ouvi-los e decidir como será a transição dos hotéis para os imóveis alugados. Até o momento, 23 famílias manifestaram interesses em ir para essas casas.
Segundo Klein, a previsão que essas reuniões com moradores sejam realizadas até o dia 18. Ele ainda afirma que a expectativa é que os atingidos se mudem para os imóveis ainda neste ano. A Samarco já tem identificadas cerca de 300 casas na região de Mariana, que ainda serão inspecionadas, informou o coordenador de desenvolvimento socioinstitucional.
Fonte (G1).
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